Notas de um Leverkusen 2-0 Dusseldorf: triunfará Bosz desta vez na Bundesliga?

 

DK_i0uoW0AAhDD.jpgDepois de um trabalho notável ao serviço do Ajax, levando-os a uma final da Liga Europa, na altura perdida para o Manchester United de José Mourinho, Peter Bosz emigrou para a Alemanha, com a difícil tarefa de suceder a Thomas Tuchel no comando do Borussia Dortmund. Contudo, ao serviço dos amarelos do Westfalenstadion, Peter Bosz não foi feliz. Seguidor e admirador confesso das ideias de Johan Cruyff (de resto como a maioria dos treinadores holandeses), Peter Bosz começou relativamente bem, com algumas vitórias folgadas. Porém, com o passar do tempo, o seu jogo posicional revelou-se demasiado estático e previsível, tornando fácil para os adversários anular. Saiu, desta forma, pela porta pequena de um dos maiores clubes alemães, após uma série de maus resultados.

As suas boas indicações iniciais não foram no entanto esquecidas. O Bayer Leverkusen, outro grande mais ou menos adormecido, comandado por Heiko Herrlich, sentia que o seu plantel tinha capacidade para jogar mais e melhor, obtendo melhores resultados. E assim, na pausa de inverno que existe no campeonato alemão, o clube de Leverkusen operou uma mudança na equipa técnica, despedindo Heiko e contratando o holandês, com a esperança de que este mostre mais do que mostrou em Dortmund.

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Peter Bosz rapidamente instalou o seu 4-3-3, tradicional por terras holandesas, com dois interiores bem profundos, puxando Julian Brandt da ala para o meio, fazendo este companhia ao imensamente talentoso Kai Havertz. Julian Brandt sempre mostrou qualidade técnica, criatividade e visão de jogo. Mas jogando na ala, a sua falta de velocidade e capacidade no 1×1 acabaram por limitar sempre um pouco o seu teto. No meio, poderá fazer uso de toda a qualidade técnica ao nível do passe e da sua criatividade, estando próximo de mais jogadores com quem possa combinar. A começar por Kai Havertz. O prodígio alemão terá agora a seu lado um elemento criativo com o qual poderá resolver os problemas de forma colectiva. A juntar a estes dois, também Volland tem sido a opção primordial para 9 e foge aos centrais adversários, posicionando-se muitas vezes entre-linhas e combinando com os interiores.

Nas alas Petr Bosz procura munir a equipa de velocidade e imprevisibilidade. Bailey ganhou a titularidade nesta equipa com a passagem de Brandt para uma posição mais central. Mas não foi só na posição de extremo que Bosz procurou introduzir mudanças. Wendell e Weiser, que só vinham sendo opção em simultâneo quando o Leverkusen actuava com 3 centrais, com medo que a equipa ficasse demasiado desequilibrada, são agora os donos das laterais, ficando responsáveis por conferir largura à equipa e permitir que Bailey e Bellarabi partam para posições mais interiores.

estrutura

Bosz procura então criar uma estrutura que permita esticar o bloco adversário, tanto em largura como em profundidade, para conseguir fazer a bola chegar com qualidade aos interiores em posição entre-linhas. A partir daqui, Brandt e Havertz podem procurar o último passe para a ruptura de Volland ou de Bailey ou então obrigam a equipa adversária a fechar dentro e a criar condições para os extremos partirem no 1×1 e criarem desiquilíbrios a partir de uma posição mais lateral.

Na primeira fase de construção, a equipa de Bosz opta por manter os laterais em posições mais conservadores, isto é, mais baixas, permitindo uma circulação segura. Sempre que podem os centrais progridem e o interior desse lado adopta uma posição mais funda, tentando criar uma linha de passe que permita quebrar linhas adversárias. Se essa linha não estiver disponível, o central opta por deixar no lateral que tenta orientar a construção para o corredor central. Um movimento comum é vermos o interior do lado da bola abrir, criando espaço para o movimento em apoio do avançado, que permite enquadrar um outro médio, como podemos ver no seguinte vídeo.

Outro padrão comum que podemos observar no vídeo é a rotação no corredor lateral em zonas mais adiantadas, com o interior numa posição mais recuada a definir a jogada, o lateral bem aberto no corredor em ruptura e o extremo numa posição mais interior, podendo fornecer um movimento em apoio, contrariando o movimento do lateral, ou podendo ele mesmo procurar o espaço nas costas da defesa adversária.

Neste próximo vídeo podemos ver mais alguns exemplos de mecanismos usados para obter uma cirulação mais segura e eficaz, que permite a equipa mover-se como uma unidade e abrir espaços para criar.

Neste jogo em análise, o Leverkusen defrontou um Dusseldorf que vinha em relativo crescimento, conseguindo sair de zonas de despromoção. Aos 15 minutos, Bellarabi lesionou-se, obrigando à entrada de Alário e ao deslocamento de de Volland para a ala. E acaba por ser Volland, a partir do corredor, a criar a ocasião para o primeiro golo. Destaque para o enorme entendimento do jogo do prodígio alemão Kai Havertz. Seja em zonas baixas de construção, em zonas de criação ou até de finalização, o jovem de 19 anos entende muito bem os espaços onde deve aparecer, se deve pedir bola no pé ou bola no espaço, protege bem a bola e aguenta a pressão e entende os movimentos dos colegas e como complementa-los de modo a criar dúvida no adversário. Foi numa dessas ocasiões em que nasceu o primeiro golo do Leverkusen no jogo frente ao Dusseldorf, o 9º nesta edição da Bundesliga do jovem nascido em 1999.

De facto, Kai Havertz e Julian Brandt são dois jovens cheios de qualidade e que podem fazer a diferença a qualquer momento. A opção por colocar os dois jovens alemães simultâneamente no meio-campo, confere-lhes mais opções de combinações e assim maior capacidade para solucionar problemas e definir em espaços curtos. Entendem-se às mil maravilhas.

Peter Bosz goza para já do “período dourado” de um novo treinador. As suas ideias estão a ser bem assimiladas e os adversários estão ainda a procurar entender a forma de jogar da equipa comandada pelo holandês. Ao modelo terá de se ir acrescentando variabilidade, tornando a equipa mais difícil de anular. Mas as indicações dadas pela equipa nestes primeiros jogos de comando laranja tem sido muito positivas, com uma boa circulação de bola, mecanismos interessantes para abrir espaços, muita criatividade no meio-campo ofensivo, com dois jovens com uma grande capacidade técnica para definir em espaços curtos, aos quais se junta ainda o avançado centro, que para além dos momentos de finalização está também presente na circulação da equipa e arrasta marcações, criando espaços que poderão ser aproveitados. Nas alas, destaque para o papel dos laterais na primeira fase de construção, cujo posicionamento permite uma circulação mais calma, pausada e segura, mas também aos movimentos realizados já no último terço, importantes para causar dúvida no adversário. Interessante também notar na capacidade dos extremos para partirem no 1×1 em situações potenciadas pela concentração de elementos no corredor central, mas também da capacidade de realizarem movimentos para as costas da defesa, explorando situações de finalização.

Em suma, boas indicações de uma equipa orientada por alguém que já fracassou na liga alemã, mas ainda muito cedo para perceber como será o caminho dos farmacêuticos daqui em diante.

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